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O último concerto de Mozart e os números da música clássica

por Leandro Oliveira

Drew McManus publica ao longo da semana o relatório orçamentário anual das sessenta maiores orquestras norte-americanas. Num trabalho impressionante de coleta de dados ele analisa e compara não apenas os gastos gerais, como também os salários de diretores executivos, diretores artísticos e spallas – e publica, nesta sexta-feira, uma panorâmica dos gastos ao longo dos últimos anos.

Como a maioria das orquestras profissionais mantém uma estrutura de ano fiscal que começa e termina em algum momento entre junho e agosto, o registro dos resultados anuais se dá vários meses depois – o que faz com que os números agora apresentados sejam aqueles da temporada 2016/17.

De qualquer modo, o trabalho é hoje uma referência internacional, tornando possível o arquivo de relatórios de remuneração da orquestra desde 2005.

O relatório deste ano traz interessantes novidades, entre elas o aumento dos salários em termos reais de todos os diretores das dez maiores instituições sinfônicas dos Estados Unidos. Atualmente, o diretor mais bem pago do mercado sinfônico norte-americano é o venezuelano Gustavo Dudamel, com salário anual de mais de três milhões de dólares.

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O Concerto em Lá Maior para Clarinete e Orquestra, K. 622 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) é universalmente reconhecido como uma obra-prima atemporal – foi o último concerto escrito por Mozart, concluído apenas dois meses antes de sua morte prematura aos 35 anos, para seu amigo, o clarinetista Anton Stadler (1753-1812).

Anton Paul Stadler (1753 – 1812) é uma figura central para o catálogo do período vienense de W. A. Mozart. Nascido em 1753, a primeira referência documentada que temos dele é em uma apresentação pública, no Kärntnertortheater, em Viena em 1775. Sabemos algumas poucas apresentações posteriores dignas de nota. O primeiro encontro de W. A. Mozart com Stadler deve ter acontecido em 1781, portanto logo após a transferência do compositor à capital austríaca. No mesmo ano, Mozart escreveu sobre a primeira performance de seu Sexteto (Serenata em Mi bemol maior, K 375): “os seis cavalheiros que tocaram eram pobres mendigos que, a despeito disso, tocam muito bem juntos, particularmente o primeiro clarinete e os dois trompistas”.

A aprovação de sua excelência se confirmará com a presença do instrumento em obras de qualidade superior, até mesmo para os termos da produção de Mozart. Sem Stadler não teríamos quatro entre reconhecidas obras-primas do mestre de Salzburg: o  já mencionado Sexteto K 375, além do Trio KV 498, o Quinteto K 581 e o Concerto K 622.

O Concerto teve sua estréia em Praga, no dia 16 de outubro de 1791. Esta semana, a Osesp apresenta o Concerto para clarinete de Mozart K 622 com a regência e solo do grande clarinetista e maestro britânico Michael Colins.

Leandro Oliveira

Leandro Oliveira é autor do livro “Falando de Música: Oito lições sobre música clássica” (editora Todavia, 2020). Tem experiência internacional em transmissões de música clássica, e é responsável pela direção das transmissões da “Maratona Beethoven”. Realizou doutorado com pesquisa na área pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.