"Nosso eu, nossa consciência e, consequentemente, o sentimento extremado de nós mesmos e da gratuidade de nós mesmos e do mundo exigem que reconheçamos que não somos mais do que a experiência inescapável da solidão, que nos forja, a um só tempo, com o sentido da angústia, do abandono e da incompletude — mas também com a necessidade, quase sempre irrealizável, de nos encontrarmos no outro, de nos realizarmos fora de nós mesmos, de nos doarmos, em alguma medida, ao mundo que nos abriga e que também é a extensão mais ou menos reconhecível de nós mesmos."
Com Kierkegaard e Camus, Montaigne e Pascal, Beckett e Baudelaire, um ensaio do Prof. Márcio Scheel sobre a solidão. É preciso amá-la — e saber deixá-la também.
"Remendar fios rompidos ou refazer compromissos que não foram concluídos talvez só seja possível pela refundação. Arendt, porém, citando Maquiavel, lembra que não há nada mais difícil, nem mais duvidoso, nem mais perigoso do que 'iniciar uma nova ordem de coisas'." Um ensaio da Prof. Adriana Novaes sobre o poder e os sentimentos na política, na parceria do Estado da Arte com o projeto Bolsonarismo: Novo Fascismo Brasileiro, desenvolvido pelo Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP, o Labô.
Uma introdução à história da filosofia, por A.C. Grayling, na tradução do Prof. Desidério Murcho. Uma parceria do Estado da Arte com o site Crítica na Rede.
Quais são os valores do liberalismo? "A despeito da dificuldade em caracterizar e definir uma doutrina tão complexa e já tão longeva como o liberalismo", o Prof. Denis Coitinho procura "destacar suas ideias centrais, considerando tanto o liberalismo clássico quanto o contemporâneo". "O liberalismo", assim, "é uma teoria política, moral e econômica que defende o progresso da humanidade, a neutralidade ética estatal, a tolerância como virtude pública central e o livre mercado com justiça social."
"Direito não é aquilo que o intérprete quer que ele seja, e, portanto, não é aquilo que o tribunal, no seu conjunto ou na individualidade de seus componentes, diz que é." O jurista Lenio Streck lança "um repto à comunidade jurídica: o dever da doutrina jurídica de doutrinar. Isso implica um papel prescritivo arraigado no paradigma democrático, e não meramente reprodutor das orientações do Judiciário — imaginário que se formou e tem ganhado cada vez mais força na teoria do Direito."
"Nos bons velhos tempos, uma das mais estimulantes observações de Mário Soares era que, em democracia, o pêndulo tem de ter espaço para se mover tranquilamente — um pouco mais para a esquerda hoje, um pouco mais para a direita amanhã." Recordando Mário Soares e os bons velhos tempos, contra o clima tribal de nossa época, as recomendações de leitura do Professor João Carlos Espada, OBE. (Publicado originalmente no Observador.)
"Quase sempre turvados por uma sombra ambígua e desfiguradora, própria dos sótãos e corredores sem saída nos quais vivem, os personagens kafkianos assistem paulatinamente ao esfarelamento de seu próprio eu, ao declínio de sua consciência. Como nós, esses personagens de Kafka assistem ao processo de desmoronamento daquilo que desde sempre se lhes apresentou como fora de todo questionamento: a veracidade dos fatos. Nossos jornalistas, cientistas e intelectuais não estão, pois, num romance kafkiano?" Confira o ensaio de Ulisses Razzante Vaccari sobre nossa condição kafkiana. Uma parceria do Estado da Arte com a ANPOF.
"Sim, a injustiça é abominável, sim, a miséria é inaceitável, sim, a nossa educação é pavorosa, sim, a corrupção e a violência correm soltas, sim, precisamos de mais ciência e menos fígado. Mas cada um desses e quaisquer outros tópicos de polêmica nacional ou internacional podem ser enquadrados sob visões, valores, narrativas e metáforas distintas e incompatíveis. São em torno destas últimas, e não de razões, que as opiniões se aglutinam. E é por isso que pessoas que de outro modo nos parecerem perfeitamente razoáveis e ponderadas podem chegar a conclusões que nos parecem absurdas por meio de raciocínios impecáveis." Um ensaio de Rogério P. Severo, sobre a natureza de nossas divergências — num tempo em que nos tornamos "todos perspectivistas, ainda que inconscientes".
O grupo Gnómon - Núcleo de Matemáticas e Ciências, do Centro de Estudos Helênicos Areté, apresenta uma tradução do artigo “Mesure relative et mesure absolue”, de Olivier Rey. Se os modelos da ciência moderna poderiam parecer, inclusive pela sua formulação, dotados de formas invariantes por escala dentro de um universo homogêneo, Rey mostra que a natureza, por outro lado, apresenta fenômenos relacionados a uma noção absoluta de medida, como já notado por Galileu. A forma é também determinada pela escala: o artigo traz tal ideia em relação a questões da física, da biologia e da política. O grupo Gnómon promoverá uma discussão sobre os temas levantados por Rey em uma live no próximo dia 8 de julho, das 19h30 às 21h30, transmitido através do canal YouTube da Areté.