"Na perspectiva de Samuel Taylor Coleridge, talvez Lucrécio esteja naquele seleto grupo dos grandes poetas, ao julgar que no man was ever yet a great poet, without being at the same time a profound philosopher." Hoje, no Estado da Arte, Alexandre Hasegawa dá continuidade à tradução comentada da descrição dos sinais da morte no DRN de Lucrécio.
Em literatura, como lidar com a zona cinzenta de personagens trágicos, marcantes, e que são, ao mesmo tempo, simples? Rafael Rocca enfrenta essa questão: partindo de dois romances judaicos do século XX — De repente, amor, de Aharon Appelfeld, e Shosha, de Isaac Bashevis Singer —, um ensaio sobre a personagem simples (que ganha dimensão para além de si mesma).
"Vi o bonsai na janela do vizinho, no prédio ao lado, lembrei do gerânio de Flannery O’Connor." Para o Estado da Arte, Juliana Amato escreve sobre o gerânio de Flannery, o bonsai do vizinho, a modernidade urbana — que não interage muito, pensa muito antes de ter filhos; sobre a avó e suas orquídeas e sobre nossos destinos, quando, afinal, já é julho e chegou o inverno.
Diferentemente do passado, estariam hoje os escritores relegados a um papel cada vez mais fragmentado e periférico? Uma reflexão sobre o poder dos contadores de histórias e o apelo centenário da personagem de tranças ruivas e cheia de sardas, Anne de Green Gables. Por Rafael Baliardo.
“Na beira do rio haviam comido o papagaio, que não sabia falar. Necessidade. Fabiano também não sabia falar”. “Se temos a palavra ‘bom’, para que precisamos de ‘mau’? Cada palavra contém em si o contrário.” Partindo de Vidas Secas e 1984 — de Graciliano e Orwell —, um ensaio do jornalista Elton Frederick sobre a deturpação da linguagem, sobre a degradação de nossos compromissos semânticos. Sobre a necessidade de escrevermos em tábuas estreitas.
"A excelente nova tradução de Memórias Póstumas de Brás Cubas, feita por Flora Thomson-DeVeaux e publicada nos Estados Unidos sob o selo Penguin Classics, tornou-se imediatamente um sucesso de vendas. Embora minha intenção fosse escrever uma resenha, este texto acabou se tornando, também, uma pequena reflexão sobre a recepção da literatura brasileira no exterior e sobre como ela afeta a nossa autoestima coletiva. No fundo, é um texto sobre o que essa nova tradução representa para nós, leitores brasileiros, nos dias de hoje." Um ensaio do diplomata Hudson Caldeira sobre a nova tradução de Machado ao inglês, sobre nossa literatura, nosso orgulho e nossa insegurança.
"Sucumbirá o império fáustico — magistral figuração da 'velocífera' sociedade industrial — às investidas dos elementos e a ameaças como a que desponta nas últimas palavras do colonizador? Ou seu legado está destinado a perdurar pelos séculos vindouros?" Para o Prof. Marcus Mazzari, "se o octogenário Goethe, concluindo a obra em que trabalhou ao longo de 60 anos, deixa essa questão em aberto, nela também se espelham hoje as incertezas de um mundo confrontado com ameaças como aquecimento global, mudanças climáticas, extinções de espécies ou irrupção de pandemias devastadoras."
"De certo modo, podemos afirmar que o amor por Albertine difere do amor por Gilberte na mesma medida em que o septeto difere da Sonata." Para Thiago Blumenthal, "a Recherche é uma história de perdas transformada em coisas sensíveis". Proust, um pouco de música, e Albertine (sempre ela).
"Quando comecei a traduzir Graciliano Ramos, descobri que é até lugar comum referir-se a ele como 'o Faulkner brasileiro'. Por quê?" É a pergunta de Padma Viswanathan, tradutora de 'São Bernardo' ao inglês, na nova edição da NYRB — uma tradução que busca corrigir essa questão, fazendo justiça ao nome de Graciliano.