Diferentemente do passado, estariam hoje os escritores relegados a um papel cada vez mais fragmentado e periférico? Uma reflexão sobre o poder dos contadores de histórias e o apelo centenário da personagem de tranças ruivas e cheia de sardas, Anne de Green Gables. Por Rafael Baliardo.
“Na beira do rio haviam comido o papagaio, que não sabia falar. Necessidade. Fabiano também não sabia falar”. “Se temos a palavra ‘bom’, para que precisamos de ‘mau’? Cada palavra contém em si o contrário.” Partindo de Vidas Secas e 1984 — de Graciliano e Orwell —, um ensaio do jornalista Elton Frederick sobre a deturpação da linguagem, sobre a degradação de nossos compromissos semânticos. Sobre a necessidade de escrevermos em tábuas estreitas.
"A excelente nova tradução de Memórias Póstumas de Brás Cubas, feita por Flora Thomson-DeVeaux e publicada nos Estados Unidos sob o selo Penguin Classics, tornou-se imediatamente um sucesso de vendas. Embora minha intenção fosse escrever uma resenha, este texto acabou se tornando, também, uma pequena reflexão sobre a recepção da literatura brasileira no exterior e sobre como ela afeta a nossa autoestima coletiva. No fundo, é um texto sobre o que essa nova tradução representa para nós, leitores brasileiros, nos dias de hoje." Um ensaio do diplomata Hudson Caldeira sobre a nova tradução de Machado ao inglês, sobre nossa literatura, nosso orgulho e nossa insegurança.
"Sucumbirá o império fáustico — magistral figuração da 'velocífera' sociedade industrial — às investidas dos elementos e a ameaças como a que desponta nas últimas palavras do colonizador? Ou seu legado está destinado a perdurar pelos séculos vindouros?" Para o Prof. Marcus Mazzari, "se o octogenário Goethe, concluindo a obra em que trabalhou ao longo de 60 anos, deixa essa questão em aberto, nela também se espelham hoje as incertezas de um mundo confrontado com ameaças como aquecimento global, mudanças climáticas, extinções de espécies ou irrupção de pandemias devastadoras."
"De certo modo, podemos afirmar que o amor por Albertine difere do amor por Gilberte na mesma medida em que o septeto difere da Sonata." Para Thiago Blumenthal, "a Recherche é uma história de perdas transformada em coisas sensíveis". Proust, um pouco de música, e Albertine (sempre ela).
"Quando comecei a traduzir Graciliano Ramos, descobri que é até lugar comum referir-se a ele como 'o Faulkner brasileiro'. Por quê?" É a pergunta de Padma Viswanathan, tradutora de 'São Bernardo' ao inglês, na nova edição da NYRB — uma tradução que busca corrigir essa questão, fazendo justiça ao nome de Graciliano.
"Ao mudar nossa própria vida, acabamos modificando também a nossa personalidade. Ao entender, frente a Le Mépris, que eu sentira desprezo por Veneza na primeira viagem, surpreendi-me. Pensava ter havido apenas, sempre, a admiração que hoje sinto. E então, em vez de saudosismo, senti reconforto de não ter mais 21 anos." Uma crônica do diplomata Ary Quintella.
Na parceria do Estado da Arte com a editora todavia, trazemos ‘O Bildungsroman como forma simbólica’, de Franco Moretti.
"É dos homens adultos, talvez também dos homens perturbados, perseguir uma ideia de pai. Na ausência do próprio, procuram a ideia de pai em outros homens, ou a negam completamente — e negam os homens, por consequência. A ideia de pai tem a ver com força, destreza, inteligência e responsabilidade. Tem a ver com imóveis, gravatas, automóveis e uma carteira que não cessa de prover a família. Isso para os outros homens. A minha ideia de pai tem a ver com insetos." Leia, no Estado da Arte, um capítulo de Três Porcos, novo romance de Marcelo Labes a ser publicado em agosto de 2020.