"Ao mudar nossa própria vida, acabamos modificando também a nossa personalidade. Ao entender, frente a Le Mépris, que eu sentira desprezo por Veneza na primeira viagem, surpreendi-me. Pensava ter havido apenas, sempre, a admiração que hoje sinto. E então, em vez de saudosismo, senti reconforto de não ter mais 21 anos." Uma crônica do diplomata Ary Quintella.
Na parceria do Estado da Arte com a editora todavia, trazemos ‘O Bildungsroman como forma simbólica’, de Franco Moretti.
"É dos homens adultos, talvez também dos homens perturbados, perseguir uma ideia de pai. Na ausência do próprio, procuram a ideia de pai em outros homens, ou a negam completamente — e negam os homens, por consequência. A ideia de pai tem a ver com força, destreza, inteligência e responsabilidade. Tem a ver com imóveis, gravatas, automóveis e uma carteira que não cessa de prover a família. Isso para os outros homens. A minha ideia de pai tem a ver com insetos." Leia, no Estado da Arte, um capítulo de Três Porcos, novo romance de Marcelo Labes a ser publicado em agosto de 2020.
"Legível ou não, a poesia ossiânica é um marco remoto da confusão gerada por notícias falsas no mundo da arte. A moral da história, se é que há alguma, deveria sustentar-se na força da consciência individual e na posteridade como os melhores — e talvez únicos — juízes." Um ensaio de André Chermont de Lima sobre o bardo Ossian: uma história de fake news no século XVIII.
"Se há algo metafísico na narrativa machadiana, ela é dissecada até não sobrar um fiapo, e por isso não trazer resposta, com certo cinismo quase sensível. No retalho, no rasgo, a sociedade está desmontada, como desmontada está a camada psicológica de todo aquele universo íntimo e coletivo." Machado de Assis rachado, em descontínuo, por Thiago Blumenthal.
"A proporção e a vileza de nossa disfunção atinge proporções que já desafiam nosso vocabulário disponível, exigindo novos termos que captem essa inédita degradação humana." Para a Prof. Kathrin Rosenfield, "regredimos para aquém da ordem dos jagunços, para aquém do patriarcal romantizado de Seu Ornelas. Para o fora da ordem dos catrumanos."
Quem é, afinal, a temida fera do título? As observações de Juliana Amato sobre o futuro, o passado, sobre A Fera na Selva, de Henry James.
Hoje, no Estado da Arte, Alexandre Hasegawa dá continuidade à tradução comentada da descrição dos sinais da morte no DRN de Lucrécio.
Uma joia da poesia horaciana, em tradução e comentário de Rafael Frate, que nos deixa esta lição: ousemos saber, "com a parcimônia e a ponderação nela prescrita. É cada vez mais um dever de todos nós, frente aos fascistas obtusos, aos negacionistas da inteligência, aos governantes facínoras e aos falsos-filósofos nefastos que têm cada vez mais estabelecido o reino da violência e da mentira em nossa combalida república."