O Cânone em Pauta

Samurais

Entrevista com Célia Sakurai, João Marcelo Monzani e Márcia Namekata. Por Marcelo Consentino.

Rádio Estado da Arte.

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Se a história é contada pelos vencedores, a do Japão é quase um conto de samurais sobre samurais para samurais. Do início do segundo milênio, quando os shoguns assumiram o poder da corte imperial, até a sua dissolução no século XIX, a elite marcial repeliu os mongóis, invadiu a Coreia e a China e dilacerou o país em guerras civis. Absorvendo Buda e Confúcio dos chineses, eles forjaram uma filosofia de vida, o Caminho do Guerreiro (Bushidô). Com coragem, honra e lealdade, o samurai devia viver pela espada e morrer pela espada — não raro pela sua. Idealmente todo nobre era guerreiro e todo guerreiro era nobre. Na prática, nem todo samurai era virtuoso, nem todo guerreiro era samurai e nem todo samurai era guerreiro. Pelo Bushidô, os samurais deveriam dominar a espada e o pincel. Mas após o clã Tokugawa unificar, pacificar e isolar o Japão, a maioria jamais viu uma espada encharcada de sangue – muito menos a sua. Seus arsenais e artes marciais tornaram-se ornamentais. Alguns viveram da pena. Muitos foram mecenas. Os samurais influenciaram tradições como as pinturas monocrômicas, os jardins de pedra ou a cerimônia do chá, e são os heróis das epopeias, dramas e foclóre do Japão. Dentre a mais mítica das armas, a espada, eles forjaram a mais mítica, a katana, e só os cowboys americanos rivalizam com seus ronins e ninjas como os fora-da-lei mais glamorizados — não como os mais glamorosos — da história. No cinema, TV, mangás e videogames esses vingadores estoicos vivem como máquinas de matar. Influenciando mestres do western, como Sergio Leone, e clássicos da ficção científica, como Guerra nas Estrelas, os samurais estão indelevelmente gravados na mitologia contemporânea.

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Duelo entre Miyamoto Musashi e Sasaki Kojiro na ilha de Ganryu-jima. Ukiyo-e de Yoshifusa Utagawa, c. 1843-47

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Convidados

Célia Sakurai: doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e autora de Os Japoneses.

João Marcelo Monzani: professor de letras japonesas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Márcia Namekata: professora de Língua e Literatura japonesa da Universidade Federal do Paraná.

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