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Podcast – “Oração à Dignidade do Homem” de Giovanni Pico della Mirandola

Convidado da vez no Café Filosófico, o florentino Giovanni Pico della Mirandola explica por que “o homem é de todos os seres vivos o mais abençoado e portanto o mais digno de admiração”, numa locução dramática produzida pelo Estado da Arte em parceria com o Instituto CPFL, especialmente para o ciclo Novos Horizontes da Responsabilidade, promovido em maio deste ano na sede da CPFL.

No clímax de sua oração, Pico imagina uma fala de Deus a Adão, cuja concepção pode ser considerada a síntese do humanismo renascentista e a precursora de todo o humanismo moderno, em suas noções de liberdade e responsabilidade:

“Não te demos, ó Adão, uma morada fixa, nem feições próprias, nem dons particulares, a fim de que seja lá qual for a morada, a feição ou o dom pelos quais vieres a optar, tu, através de teus próprios juízos e decisões, os conquistes e possuas. A natureza dos outros seres, uma vez definida, é constrangida entre os limites prescritos pela nossa lei. Tu porém não és constrangido por nenhum limite, a fim de que através de teu livre arbítrio, nas mãos do qual te pus, tu mesmo o definas. Coloquei-te no centro do mundo, para que possas observar mais facilmente tudo o que existe no universo. Nem celeste nem terreno, nem mortal nem imortal te criamos, a fim de que possas, como um livre e extraordinário escultor de ti mesmo, plasmar a tua própria forma tal como a preferires. Poderás degenerar-te nas formas inferiores, que são animalescas; poderás, segundo a tua decisão, regenerar-te nas formas superiores, que são divinas”.

Hoje, ainda que “Deus Criador” tenha se retraído da cena pública, o homem resta com a mesmíssima responsabilidade ante a Criação. Por isso, o filósofo Oswaldo Giacoia, curador do Ciclo, anunciava: “Responsabilidade é atualmente a tradução da necessidade de amadurecimento e despertar para uma nova consciência dos impasses e dilemas do habitar humano no mundo.” Por isso, também, o psicanalista e filósofo Zeijko Loparic dedicou sua palestra à “ética do cuidado”, cujo componente central é “o senso de responsabilidade para consigo mesmo, para com os outros e com a sociedade.” O cientista político Renato Lessa, por sua vez, dedicou todo um encontro a tratar a uma “reflexão a respeito da presença de macro mecanismos de autonomização, presentes ao longo da experiência social e cultural dos humanos.” Para o jurista e diplomata Celso Lafer, ante o desenvolvimento tecnológico e a capacidade humana de alterar (e mesmo destruir) grandes porções do muno natural se faz necessário “um conceito ampliado de responsabilidade tanto no âmbito da produção de conhecimentos científico-tecnológicos quanto no plano da ação social, das políticas públicas nacionais e globais.”

Todos esses dilemas estavam presente em forma embrionária no mundo do jovem conde della Mirandola, então com menos de 30 anos. Vieram à tona nesse mundo, e hoje, mais 500 anos depois, se tornaram mais prementes do que nunca.