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Podcast – “Para criar mentes maduras, ou: Apologia do Ensino Superior” de John Henry Newman

Em mais uma peça em parceria com o Café Filosófico – CPFL, o Estado da Arte traz em viva voz John Henry Newman (1801-1890), um dos mais competentes prosadores da língua inglesa, Cardeal e Reitor-fundador da Universidade Católica da Irlanda, dissertando sobre educação e formação.

Celebrando em 2017 o tema da “Responsabilidade”, o Café Filosófico promoveu em Junho o ciclo Tempo da Infância e a Infância de nossos tempos. Como explica a sua curadora, Julieta Jerusalinsky, “a infância – ao caracterizar-se pelo crescimento, maturação desenvolvimento e constituição psíquica – implica um intenso trabalho da criança para situar-se e construir o seu vir a ser diante do outro familiar, escolar e social.” Daí por que, complementa ela, mesmo com todas as legislações que protegem a infância, deparemos com o fato de que as crianças, tais como a infantaria de um exército, estão expostas na linha de frente dos impasses produzidos pela cultura e sociedade de cada época, diante dos quais elas tentam produzir respostas, se ocupando e se preocupando com aquilo que as cerca. Por isso é relevante escutarmos as respostas que as crianças têm produzido diante dos ideais e sintomas sociais de nossos tempos.

Estes temas não são de modo algum novos para o público do Café, que é regularmente brindado com novas reflexões e discussões sobre o problema, como, por exemplo, nos ciclos Jovem urgente no século XXI (2011), A Evolução da Família (2012) e mais recentemente no encontro de 2016 Os desafios da educação.  Neste último, entre outros temas de gestão da rede pedagógica, a filósofa e educadora Viviane Mosé ponderava:

o ensino médio deveria abrir três caminhos distintos aos alunos: formação intelectual (para quem quer seguir carreira acadêmica); formação de profissional liberal; formação pra quem não quer fazer faculdade e prefere, por exemplo, ser marceneiro.  

Este tipo de diversidade, que corresponde à dignidade própria das diversas vocações à disposição para cada cidadão, já estava presente nas ponderações de Newman há mais de um século e meio atrás.

Em suas preleções pronunciadas durante os trabalhos para a instituição da Universidade Católica da Irlanda, Newman consegue como ninguém entrelaçar as duas linhas mestras de uma concepção total da educação, a saber: a formação intelectual e a formação moral; a instrução e o caráter. Ao mesmo tempo, ele é capaz de enxergar de maneira integrada essas linhas desde a raiz até os frutos, ou seja, desde a educação na primeira infância até a formação de nível superior. Segundo ele

Uma porção principal da educação intelectual, dos labores tanto da escola quanto da universidade, é remover a obscuridade do olho da mente; fortalecer e aperfeiçoar sua visão; capacitá-lo a olhar fora no mundo diretamente adiante, firme e verdadeiramente; dar à mente clareza, exatidão, precisão; capacitá-la a usar as palavras corretamente, a entender o que cada uma diz, a conceber com justeza o que pensa sobre elas, a abstrair, comparar, analisar, dividir, definir, e raciocinar, corretamente.

Nesse esforço por remover a obscuridade do olho da mente, Newman discute fenômenos aparentemente tão distantes, mas substancialmente tão correlatos, quanto a disciplina necessária à formação intelectual, o papel do intelectual público e da grande mídia na educação, a ética própria ao homem culto, o dever de um ceticismo prudente e, finalmente, a essência da Universidade, como um espaço privilegiado de condensação e difusão de todo esforço formativo. Para Newman

A Universidade é o lugar onde mil escolas fazem contribuições; onde o intelecto pode em segurança vaguear e especular, certo de encontrar seu igual em alguma atividade antagonista, e seu juiz no tribunal da verdade. É um lugar onde a investigação é empurrada para frente, e as descobertas verificadas e aperfeiçoadas, e a precipitação se torna inócua, e o erro é exposto, pela colisão de mente com mente, e conhecimento com conhecimento. É onde o professor se torna eloquente, e é um missionário e um pregador, exibindo sua ciência em sua mais completa e vitoriosa forma, derramando-a com o zelo do entusiasmo, e acendendo o seu próprio amor por ela no peito de seu ouvinte.

Confira a ciência da educação em sua mais completa e vitoriosa forma, nessa seleção especial para o Café Filosófico:

O tempo da infância e a infância dos nossos tempos

Jovem urgente – século XXI – Paulo Gaudêncio

A evolução da família – Joel Birman

Os desafios da educação: gestão, nosso maior desafio? – Viviane Mosé