Política

Nosso perfeccionismo cotidiano

"O fascismo tem voltado, não pelas narrativas fraudulentas propagadas, apenas, mas pela disposição de boa parte da população mundial em lê-las, aceitar acreditar no que elas propagam e, voluntariamente, compartilhá-las em suas redes sociais e com seus contatos no telefone. Tem voltado porque, ao que tudo indica, novamente, ressurgiu a aversão à realidade — imperfeita, heterodoxa, diversa e plural, trazendo de volta o perfeccionismo como vontade generalizada de limpeza, ordem e consistência." Um ensaio de Henrique Raskin sobre nosso perfeccionismo cotidiano.

O conceito de ironia, constantemente referido a Bolsonaro

"Eis o cruzamento entre ironia e fascismo. Diante de múltiplas verdades e mentiras, em meio a um infinito jogo de espelhos, tornamo-nos suscetíveis à mistificação. Embora em desuso, o termo é simples: trata-se de tornar algo banal em uma coisa obscura, divina ou mágica. Ou, a título de exemplo, trata-se de tornar um chulo capitão de infantaria em uma espécie de mito, detentor de virtudes heroicas: sua vulgaridade sugere a franqueza; sua inépcia, simplicidade; suas polêmicas, bravura e martírio. Como o sedutor silencioso e irônico, no qual projetamos todas as qualidades que desejamos, personagens da laia de Jair Bolsonaro são capazes de catalisar as projeções políticas de seu eleitorado, confundindo-as e dissolvendo-as na sua própria personalidade." Para Pedro Augusto Pinto, Jair Bolsonaro é "o melhor exemplo disponível no mercado" para ilustrar o conceito de ironia em Søren Kierkegaard.

O antipluralismo populista

"a irracionalidade que atravessa certa militância, parafraseando André Glucksmann, acusa sem saber, julga sem ouvir, condena a seu bel-prazer, dilacerando tudo com sua arbitrariedade. O radicalismo embebido em espírito de submissão ao líder e conformidade total aos seus desejos trazem a reboque pretensões hegemônicas, movidas pela imagem mítica de uma unidade perdida ou a ser alcançada." Uma reflexão de Rodrigo Coppe, em publicação do Estado da Arte com o projeto Bolsonarismo: O Novo Fascismo Brasileiro, do Labô/PUC-SP.

O Brasil se tornou mais kitsch? A estética do bolsonarismo

Será o kitsch capaz de explicar algumas das características da chamada “estética do bolsonarismo”? Assista aos vídeos do Prof. Rodrigo Cássio de Oliveira, em produção da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da UFG, em parceira com o Estado da Arte e em integração com o projeto de pesquisa Bolsonarismo: o novo fascismo brasileiro, do Labô/PUC-SP.

O fascismo para além das dualidades no pensamento de Renzo De Felice

A partir da obra de Renzo De Felice, Vinícius Müller argumenta que a perspectiva "que obriga que qualquer interpretação sobre o fenômeno histórico do fascismo seja limitada pela cronologia" não é apenas "evitável", como também "perde a sutileza de procurar tanto antes quanto depois o desenvolvimento e a sobrevivência de elementos da matriz fascista". "A questão não está na impossibilidade de eles existirem antes ou continuarem existindo depois, e, sim, na sabedoria de que não podemos permitir, nunca mais, que eles tenham um contexto favorável às combinações que possam potencializá-los." Uma publicação do Estado da Arte em parceria com o projeto Bolsonarismo: O Novo Fascismo Brasileiro, do Labô/PUC-SP.

Juan Linz, Bolsonaro e o Presidencialismo

"Em 1990, o cientista político Juan Linz publicou um influente artigo alertando sobre riscos que via no sistema presidencialista, em especial em países com divisões políticas profundas e uma legislatura fragmentada em muitos partidos. Para quem lê seu artigo hoje, é impressionante a precisão com a qual ele parece descrever o Brasil atual, do presidente Jair Bolsonaro. Suas “previsões” vão desde a eleição em si até a relação entre os poderes, o comportamento do presidente e as dificuldades existentes para controlá-lo e, se necessário, removê-lo."

O Brasil dos Catrumanos: nossa realidade atual?

"A proporção e a vileza de nossa disfunção atinge proporções que já desafiam nosso vocabulário disponível, exigindo novos termos que captem essa inédita degradação humana." Para a Prof. Kathrin Rosenfield, "regredimos para aquém da ordem dos jagunços, para aquém do patriarcal romantizado de Seu Ornelas. Para o fora da ordem dos catrumanos."