Poesia

Três poemas inéditos de Hugo Langone

O poeta Hugo Langone: trato sensível da linguagem.

Nascido no Rio de Janeiro, o poeta Hugo Langone publicou em 2015 Do nascer ao pôr do sol, um sacrifício perfeito (7Letras), ao qual o Estado de S. Paulo dedicaria uma resenha que sublinhou, entre outros traços do livro de estreia – e que precedeu o estudo Chorar por Dido é inútil: Santo Agostinho, as Confissões e o manejo da literatura pagã (Filocalia, 2018) –, sua “experiência enriquecedora no trato da linguagem”, “a linguagem sensível trabalhada em ritmos de medida gravidade”, a “pesca de epifanias” e a ciência da “condição do gesto cultural como reflexo de outros tantos gestos ecoando pela história”. Três anos depois, o Estado da Arte publica três poemas inéditos do autor, que afirma estar dando toques finais a mais um volume.

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À POETISA POLONESA

No medievo e antes, houve quem achasse nome

Às espessuras que não penetras. 

Essa fala de andorinhas, de céu,

De amor simples, 

A fala que apraz mas não

Rasga fronde alguma, nada, 

Nem a brisa fácil que é no fundo

Rumor divino…

É este mesmo o risco do poema,

Outrora claro às poetisas: 

Perder o verbo escuro que circula  

Antes mesmo do ocaso,

Entre os hibiscos, 

O adjetivo ainda firme 

Quando se movem as madressilvas 

E recendem.

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CORAÇÃO INQUIETO, ATÉ QUE DESCANSE

Mudam-se os fins, mudam-se os meios,

Muda-se o peito.

A mim direi o quê, a cada novo preceito?

Apaga, meu eu, a palavra velha, já falta

De efeito? Pois é este o risco de não quereres

O horizonte velho mas sempre novo,

O horizonte perene, o horizonte perfeito.

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CREPÚSCULO

Como o diadema dos

montes

Brisa, brisa: ao vê-lo urrarás

em favor do cedro erguido,

e olharei

É bárbaro, o crepúsculo,

sobrepuja o manto de lume

a passo e passo

Bárbaro, bárbaro!, 

Confunde este menino

 

Ou o torpor do firmamento,

Ou querer o corpo seguro do pai

Hugo Langone

Hugo Langone é poeta e doutor em Teoria Literária, autor dos livros Do nascer ao pôr do sol, um sacrifício perfeito (7Letras, 2015), A descida do monte Tabor (no prelo) e Chorar por Dido é inútil: Santo Agostinho, as Confissões e o manejo da literatura pagã (Filocalia, 2017).