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Podcast – “O julgamento moral na criança”, de Jean Piaget

Em mais uma locução dramática realizada em parceria com o Café Filosófico – CPFL, o Estado da Arte apresenta as ponderações do biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) sobre a genealogia e desenvolvimento da ética na mente infantil, na conclusão do livro O julgamento moral na criança, de 1932.

Celebrando o tema da “Responsabilidade” ao longo de todo o ano de 2017, o Café Filosófico abordou em praticamente todos os seus ciclos o problema da educação para vida a moral, ou, em outras palavras, a educação para a responsabilidade.

Assim, o ciclo de Junho, “O Tempo da Infância e a Infância dos Nossos Tempos” se propunha a pôr em relevo a importância de que seja possível às crianças terem acesso a narrativas que historizem as experiências de gerações anteriores, recuperando-as, não de modo idealizado, mas como testemunho de possibilidades e impasses vividos em outros tempos, considerando que os desafios de cada geração não são equivalentes aos da anterior, mas que justamente por isso tornam necessária uma transmissão com lugar à invenção.

E em particular, a psicanalista Ilana Katz, em sua palestra “Infância e política”, ocupou-se em definir o desenvolvimento da subjetividade da criança a partir de sua crescente participação na cidade, ou seja, na vida da polis, e daí para a “política” propriamente dita.

Naturalmente, essa preocupação do Café Filosófico com a educação não é coisa nova, e o tema foi abordado de ano em ano, por diversos prismas, como por exemplo nos ciclos “Os desafios da nova escola”, “Família”, “Jovem urgente no século XXI”, “Saberes necessários para a educação do futuro”, “A família no ritmo contemporâneo”, entre outros.

Voltando a série de 2017 sobre “Responsabilidade”, o Ciclo de setembro apresentou uma interessantíssima discussão sobre um processo que o curador, o psicanalista e cientista político Carlos Plastino, denominou “Do paradigma da dominação ao paradigma do cuidado”. Como explica ele:

Organizada em torno das ideias centrais de conflito, conquista e dominação como característica fundamental das relações entre os homens e destes com a natureza, o paradigma da dominação apresenta inequívocos sinais de profunda crise. . . . Neste contexto, é possível assinalar a emergência de elementos de um novo paradigma, o paradigma do cuidado, sustentado no reconhecimento da alteridade, reconhecimento que tem na empatia natural dos homens sua raiz mais profunda.

Como suporte e fundamento para essa nova perspectiva no campo da educação, o livro já centenário de Jean Piaget explora justamente o contraste entre as relações de “coação” e de “cooperação”, e suas consequências no campo da educação. Como diz ele:

A sociedade é o conjunto das relações sociais. Ora, entre estas, dois tipos extremos podem ser distinguidos: as relações de coação, das quais o próprio é impor do exterior ao indivíduo um sistema de regras de conteúdo obrigatório, e as relações de cooperação, cuja essência é fazer nascer, no próprio interior dos espíritos, a consciência de normas ideais, dominando todas as regras. Oriundas dos elos de autoridade e de respeito unilateral, as relações de coação caracterizam, portanto, a maioria dos estados de fato de dada sociedade e, em particular, as relações entre a criança e seu ambiente adulto. Definidas pela igualdade e pelo respeito mútuo, as relações de cooperação constituem, pelo contrário, um equilíbrio limite mais que um sistema estático. Origem do dever e da heteronomia, a coação é, assim, irredutível ao bem e à racionalidade autônoma, produtos da reciprocidade, se bem que a própria evolução das relações de coação tenda a aproximá-las da cooperação. 

É precisamente a valorização das relações de cooperação no ensino que ele defenderá na conclusão de seu livro.

Veja também no Café Filosófico:

O tempo da infância e a infância dos nossos tempos

Do paradigma da dominação ao cuidado

Os desafios da educação brasileira, com Viviane Mosé

Infância e política, com Ilana Katz