Poesia

Sólon e a boa ordem

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Apresentamos aqui, na íntegra, a tradução da elegia de Sólon intitulada Eunomia (= Fragmento 4), tal como presente em Elegia Grega Arcaica: Uma Antologia, de Giuliana Ragusa e Rafael Brunhara — um excerto do Cap. 5, “Sólon”, da obra.

Boa parte do corpus poético remanescente de Sólon (640-560 a.C.) — a primeira voz da Ática na poesia grega antiga — pode ser lida contra o pano de fundo de sua atividade política em Atenas, pois “seus poemas nos apresentam um fenômeno extraordinário: um líder político usando a poesia como seu principal meio de comunicação, para agitar, alertar, anunciar e defender suas políticas”[1]. Políticas que encerram, entre suas medidas famosas — que, todavia, não lograram impedir a tirania em Atenas —, o fim da escravidão por dívida; a política da eunomia (“boa ordem”), tema do Fr. 4, que redefinia a natureza da cidadania não pelo nascimento, mas pelo status econômico; e uma espécie de tribunal popular de apelações. Famosa também é a história relatada na ficcionalizante tradição biográfica antiga, segundo a qual Sólon teria viajado por dez anos, afastado de Atenas, para que as novas leis por ele instauradas fossem testadas pelo tempo, sem que o homem político fosse testado pelas pressões de todos os que por elas se sentiam afetados.

Em sua poesia, de perspectiva fundamentalmente aristocrática, destacam-se a forte dimensão cívica dos fragmentos e de sua persona, e a reflexão ético-moral, por vezes exortativa, sobretudo a partir da questão do homem na pólis e da justiça (dík?) de Zeus. Poesia política, porque visceralmente ligada à pólis, boa parte das elegias solonianas mostram o “eu” elegíaco atuante, em plena praça pública, de modo consoante à figura histórica do poeta, que integra o processo complexo, marcado por idas e vindas, pelo qual se vai construindo a democracia ateniense no decorrer da era arcaica à clássica, quando vigora, notadamente no século V a.C..

O que se lerá no poema abaixo é um louvor a Eunomia, a Boa Ordem, ou mesmo o Bom Governo: uma ideia que, para Sólon, se aproxima do conceito de Justiça (Dík?) e se opõe à Disnomia — que equivale à destruição causada pelos governantes corruptos e gananciosos.[2]

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Notas:

[1] B.Knox, “Elegy and Iambus – 4. Solon”,1990, p. 146.

[2] Ver os comentários completos ao poema em Ragusa e Brunhara, Elegia Grega Arcaica: Uma Antologia, 2020, pp.137-145.

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