A construção de mercados no mundo real. Em parceria do Estado da Arte com o Terraço Econômico, um ensaio de Vinicius Carrasco sobre o Nobel de Economia de 2020 — sobre a Teoria dos Leilões de Paul Milgrom e Robert Wilson.
"Nenhuma das ameaças pré-pandemia à economia global desapareceu, e pelo contrário, com a crise gerada pela COVID-19 e as resposta que estão a ser encontradas, estão a agravar-se e a agravar todas elas. Ampliaram-se os grandes riscos que já existiam e introduziram-se mais barreiras ao crescimento na próxima década." Para Sónia Ribeiro, do Instituto de Estudos Políticos, em tempos de horizontes largos, importa rejeitar as falsas respostas e encarar a incerteza em seus termos.
"Existe uma exigência do futuro que bate à porta: a transição ecológica e a necessidade efetiva de desestimular fortemente as emissões de gases do efeito estufa e reverter a tendência de aumento para uma de queda. Para isso", sustenta Henrique Mota, "é preciso um imposto sobre o carbono, o verdadeiro tributo do futuro."
Em nosso contexto, "a precificação do carbono deve ser implantada em conjunto com a desoneração da folha de pagamentos (especialmente salário-educação e sistema S) e a expansão de uma nova rede de proteção, uma espécie de renda básica." Para Mota, portanto, "há uma janela de oportunidade aberta para grande revolução: uma reforma tributária genuinamente verde."
"O capitalismo contemporâneo, tecnológico, industrial, financeiro e globalizado é incompatível com a escravidão ou, ao contrário, não só é compatível como foi forjado sobre o sangue dos escravos?" Para Vinícius Müller, a obra de Edward Baptist ajuda a revelar a metade que nunca foi contada. Para além dos confortos do ativismo e do viés de confirmação, mas também para além das limitações e amarras de um tipo ideal ortodoxo, enfrentar as questões levantadas pelos autores da Nova História do Capitalismo pode ser uma tarefa de dimensão moral.
"André Lara Resende abriu uma brecha num terreno abarrotado de trincheiras ideológicas e deblaterações entre escolas de pensamento econômico. Por brechas assim passa o oxigênio para voltarmos a respirar os problemas de nosso tempo." Por Bruno Cava, uma resenha de 'Consenso e Contraconsenso: Por uma economia não dogmática', de André Lara Resende.
"Ao expor a nossa imensa desigualdade, do acesso à saúde às condições de moradia, a pandemia convida ao debate sobre tributação da renda. Na reforma tributária que estava em discussão na Câmara não se tratava diretamente de tributação sobre a renda ou patrimônio, e o governo também não parecia ter isso como prioridade."
A tradição liberal sempre defendeu a manutenção de um governo forte e atuante naquilo que devem ser as suas atribuições fundamentais, saúde, educação e justiça. Podemos discordar nos mecanismos utilizados para atingir esse fim, mas de Locke a Friedman, é pouco provável que um olhar atento nos fará ver uma repulsa pela existência de governos institucionalmente fortalecidos.
Com o desprezo do lado político do conceito de liberalismo, nessa vulgata libertária, fica de lado, por exemplo, uma ideia civilizatória fundamental – aquela segundo a qual pertencer a uma ordem política e jurídica é desfrutar do reconhecimento da condição humana.
Há vinte anos, de passagem por Paris rumo a Barcelona, onde participaria de uma banca, deparei-me na Place de la Sorbonne com um ato público de centenas de estudantes de economia, lançando um manifesto no qual pediam mudanças de currículo e de abordagem pedagógica.