Acompanhando os irmãos ao longo de paisagens calcinadas e territórios chamuscados pela ira humana que se expande catarticamente em linchamentos e crimes de ódio, McCarthy constrói um universo que não apenas é refratário ao domínio do homem, mas que também, fechando-se sobre si mesmo, conspira contra cada avanço, ainda que mínimo, do homem.
Que espetacular pode ser um poema capaz de tanger a eternidade de cada um de nós.
Ao início do século XX, literaturas tão diversas quanto a russa, as latino-americanas ou a chinesa terão seu movimento simbolista, que é também seu momento gálico; a sombra da França se confunde então à sombra de Baudelaire. Sob sua influência, a lírica francesa moderna se constitui como lírica moderna universal.
É forte a tentação de pensar que, como algo está na origem, sua presença afetaria tudo o que veio depois, como um traço congênito. Sem avaliar essa presunção, é fácil observar que, em programas literários subsequentes, o argumento de José de Alencar foi repetido: a literatura que se atacava não estaria à altura do Brasil.
Se a poesia é o espaço de reivindicação da singularidade da experiência, a política na poesia bem faz em evitar o caminho fácil que é falar dos outros enquanto, a um só passo, trata de reduzi-los a lugares-comuns.
Meridiano de Sangue ou o Crepúsculo Vermelho no Oeste, de McCarthy, nos dizeres de Harold Bloom, é o “Western supremo”, “a culminação de todo potencial estético que a ficção Western possui”, “encerrando, pois, a tradição”.
Dando sequência à lista de pretensões perigosas para a poesia, iniciada aqui na semana passada, hoje trato do terceiro tipo, a crença de que a forma pode ter um valor em si mesma.
Uma arte que imita; uma arte que ensina; uma arte que educa; eis a tripla recusa da estética de Baudelaire. Em seu lugar, ele erige a sugestão como princípio da verdadeira arte. Afinal, como o mundo criado reservadamente pelo artista iria manifestar-se se não por sinais, por brechas que deixam apenas adivinhar a coesão do todo invisível para além do muro?
Muitos de nossos autores estão morrendo tão precocemente estando infelizmente ainda vivos – convoco o linguista para decidir onde inserir o advérbio. Não se morre ainda vivo.