É forte a tentação de pensar que, como algo está na origem, sua presença afetaria tudo o que veio depois, como um traço congênito. Sem avaliar essa presunção, é fácil observar que, em programas literários subsequentes, o argumento de José de Alencar foi repetido: a literatura que se atacava não estaria à altura do Brasil.
Se a poesia é o espaço de reivindicação da singularidade da experiência, a política na poesia bem faz em evitar o caminho fácil que é falar dos outros enquanto, a um só passo, trata de reduzi-los a lugares-comuns.
Meridiano de Sangue ou o Crepúsculo Vermelho no Oeste, de McCarthy, nos dizeres de Harold Bloom, é o “Western supremo”, “a culminação de todo potencial estético que a ficção Western possui”, “encerrando, pois, a tradição”.
Dando sequência à lista de pretensões perigosas para a poesia, iniciada aqui na semana passada, hoje trato do terceiro tipo, a crença de que a forma pode ter um valor em si mesma.
Uma arte que imita; uma arte que ensina; uma arte que educa; eis a tripla recusa da estética de Baudelaire. Em seu lugar, ele erige a sugestão como princípio da verdadeira arte. Afinal, como o mundo criado reservadamente pelo artista iria manifestar-se se não por sinais, por brechas que deixam apenas adivinhar a coesão do todo invisível para além do muro?
Muitos de nossos autores estão morrendo tão precocemente estando infelizmente ainda vivos – convoco o linguista para decidir onde inserir o advérbio. Não se morre ainda vivo.
Bruno Tolentino, poeta e ensaísta ocasional, faleceu há dez anos e poucos dias. O que ele escreveu sobre Oswald, as ideias que desenvolveu sobre o modernismo de 1922, traziam um misto de perspicácia e ingenuidade.
A coluna de hoje, a ser continuada nas próximas semanas, apresenta sete tipos de pretensão poética que, se não alcançam a página, tornam-se a destruição da própria poesia.
Quando se fala no uso da palavra como invocação guerreira, impossível não lembrar aquela cena de Shakespeare, em que o jovem Henrique V incita as tropas inglesas à camaradagem heroica, antes da batalha de Agincourt.