Slogans e frases de efeito são hoje publicidade, não poesia. Que se dê àquela o nome desta é o anúncio da devastação de uma cultura – e, cedo ou tarde, o tempo revela os escombros.
Em nossa coluna de hoje, voltamos ao poeta e compositor Leonard Cohen, como motor para uma rápida discussão sobre a poesia que existe para além de sua forma convencional, ou seja, a forma versificada.
Baudelaire teria apreciado essa maneira de fazer as palavras rondarem, sem poderem esgotar, esse estado inexprimível em que a delícia suprema do indivíduo sobrepõe-se ao momento extremo da sua própria aniquilação.
Quando Proust pondera que o homem só se dá conta de maneira integral de sua realidade externa na mudança de posição fica fácil notar o quanto esse movimento é capital para os sentidos entre mente e o espaço que ela (mente) consegue captar, em especial ao narrá-los. Esses locais estão perdidos, já não fazem mais parte do que o narrador chama de sua “realidade”, e portanto sem mapa, sem localização precisa na imensa organização de seu romance.
Os nossos romances modernos estão mais próximos da tradição homérica. Eles querem transmitir algo da vida real do cidadão comum, pintar o mundo, transmitir a sensação de modernidade. Eles podem ser esmiuçados, mas primeiro vão entreter, provocar emoções. Era isso que pretendiam Balzac, Dickens, José de Alencar.
O que mais me agrada é apresentar poetas aos leitores brasileiros.
Acompanhando os irmãos ao longo de paisagens calcinadas e territórios chamuscados pela ira humana que se expande catarticamente em linchamentos e crimes de ódio, McCarthy constrói um universo que não apenas é refratário ao domínio do homem, mas que também, fechando-se sobre si mesmo, conspira contra cada avanço, ainda que mínimo, do homem.
Que espetacular pode ser um poema capaz de tanger a eternidade de cada um de nós.
Ao início do século XX, literaturas tão diversas quanto a russa, as latino-americanas ou a chinesa terão seu movimento simbolista, que é também seu momento gálico; a sombra da França se confunde então à sombra de Baudelaire. Sob sua influência, a lírica francesa moderna se constitui como lírica moderna universal.